“O interesse em estudar as comunidades de Fundo de Pasto nasceu do
contato com monitores e alunos da Escola Família Agrícola do Sertão – EFASE, no
ano de 2005. Nesta época eu era bolsista do projeto Eco-família, que atuava na
região de Monte Santo (Caatinga) e no Vale do Jequiriça (Mata Atlântica) e
objetivava através de um trabalho de educação e extensão universitária auxiliar os
agricultores no processo de transição tecnológica da agricultura convencional para
uma agricultura ecológica .Durante este projeto tive oportunidade de conhecer a
EFASE e a pedagogia da alternância, uma metodologia educacional voltada para
a vida no campo e as questões sociais da região. A forma descentralizada de gerir
a escola e o envolvimento dos alunos em questões práticas como uso da água,
conflitos fundiários, bem como seus relatos sobre manifestações camponesas
como O Grito da Terra e o Encontro Nacional do Movimento Sem Terra me
impressionaram bastante. Ao longo do projeto entrei em contato com o movimento
camponês da região (Canudos, Uaua, Monte Santo, etc.) que parece trazer
reminiscências da Revolução de Canudos, o movimento tem bases ideológicas
que fusionam catolicismo, cultura indígena e negra a um comunismo comunitário
baseado nas relações familiares, de vizinhança, na solidariedade local e na cultura
sertaneja.

O Fundo de Pasto resiste aos arautos da ilusão da modernidade e do
progresso.

O Fundo de Pasto não é só um modo de trabalhar no campo. É um modo
de viver! É uma cultura própria de relação com a natureza, com a terra e entre si.
É uma forma diferenciada de vida comunitária. Em sua maioria o trabalho é
familiar, não assalariado e não capitalista” (CPT, 2007).

O Fundos de Pasto são uma forma de viver e trabalhar com características de
autonomia, tendo constituído uma estrutura organizativa secular (CENTRU,1987,).

São comunidades tradicionais, como quilombolas, tribos indígenas, populações
ribeirinhas, pescadores e extrativistas (INCRA, 2004).
Segundo as comunidades:

“É o nosso jeito de viver no Sertão”.

(Grupo Pilão Arcado Remanso e Campo Alegre de Lurdes)
“Somos nós os Fundos de Pasto” (Plenária).
62
“Traz a herança Indígena, nos costumes, na confecção do artesanato de palha,
cipó e outros materiais” (Plenária)

“Está presente a tradição africana: terreiros de candomblé, danças, costumes,
mitos”.(Plenária)

Como as outras comunidades tradicionais sofrem uma ação
desestruturadora por parte do grande capital, que atinge os trabalhadores
retirando os seus meios de produção através de um processo de proletarização,
tomada de suas terras, e também pela relação de subordinação do trabalho ao
capital……

PROJETO MANEJO ECOLOGICO DOS FUNDOS DE PASTO -RESUMO

Em Monte Santo existem atualmente 34 comunidades de Fundos de pasto, nestas comunidades tradicionais, agricultores familiares moram em pequenos lotes individuais e criam seus animais(caprinos e ovinos), em áreas de posse coletiva(criação semi-extensiva), aproveitando as forragens naturais da caatinga. A maioria das comunidades está organizada em associações, pratica uma agricultura de baixo impacto ambiental e valoriza a cultura e vida na caatinga, sendo importantes parceiros na preservação do semi-árido baiano.
O crescimento dos rebanhos das comunidades de fundo de pasto tem causado a degradação da caatinga, o que podemos verificar pela ausência de árvores jovens como: umbuzeiros, umburanas, aroeiras, licurizeiros e outras, que logo após germinarem são consumidas pelos rebanhos.
O Projeto de Manejo ecológico do Fundo de pasto objetiva articular a preservação de áreas da caatinga ao desenvolvimento de atividades agropecuárias que contribuam com o aumento da biodiversidade e a melhoria da qualidade de vida das comunidades através da utilização de tecnologias ecológicas apropriadas a realidade local.

&nbs p; Metodologia

O projeto teve inicio com visitas de mobilização e um seminário de construção participativa das capacitações e outras metas.
As capacitações estão sendo realizadas na EFASE (Escola Família Agrícola do Sertão) e nas comunidades de Fundo de Pasto, através da exibição de filmes, intercâmbios entre agricultores, e oficinas teóricas e práticas.

O Projeto atua em 14 comunidades de Monte Santo, sendo estas: 11 são comunidades de Fundo de Pasto, 1 assentamento e 2 associações comunitárias.
No primeiro semestre de 2008, as comunidades participantes e o IMA, definiram que as experiências piloto seriam desenvolvidas em 4 comunidades (Muquem, Paredão do Lou, Lagoa do Saco e Lagoa da Ilha) e na EFASE. As outras 12 comunidades participam das capacitações realizadas na EFASE e recebem oficinas de repasse ministradas pela equipe de extensão do Projeto, 3 ex-alunos da EFASE e 1 monitor das EFASE.

O projeto já realizou as seguintes capacitações :

Manejo sustentável do Licurizeiro trabalhou o uso e importância do Licuri, sua utilização na alimentação humana, e na ração animal e a extrção do seu óleo.
Forragens da caaatinga trabalharam a utilização forrageiras exóticas e nativas( palma, pau de colher, maniçoba ) na alimentação animal, bem como técnicas de armazenamento( silos e fenação).
Beneficiamento de frutas trabalhou a produção de doces, geléias e compotas a partir das frutas nativas(umbu, maracujá do mato) e exóticas como manga, goiaba, maracujá.
Cooperativismo no Semi-árido reuniu CESOL(Centro de Economia Solidária), ARESOL(associação regional xxx , Redemoinho- Cooperativa de Comercio Justo e Solidário, a EFASE , o IMA e diversos moradores de comunidades locais para discutir as políticas publicas e partilhar das experiências em associativismo e cooperativismo, alem de qualificar os produtores nas área de comercialização e formação de cooperativas.

Sistemas agroecologicos no semi-árido

Em outubro de 2008 iniciamos o plantio dos sistemas agroecologicos , estes consorciam *espécies nativas da caatinga, árvores frutíferas, culturas anuais e as plantas “adubeiras”, sendo caracterizados por sua alta biodiversidade , uso de diferentes estratos, criação de micro climas e manejos inspirados nos padrões da sucessão vegetal.
Nestas comunidades os sistemas agroecologicos ajudam a recuperar biodiversidade e ao mesmo tempo aumentam:
– A capacidade de suporte ao pastejo, produzindo maniçoba, palma, aipim para as criações.
– A capacidade de suporte ao extrativismo vegetal, plantando arvores para produção de madeira para cerca, lenha, construção de casas e móveis, além de espécies usadas na medicina popular e artesanato.
Nativas:
Aroeira, Angico, Maniçoba, Umbu, Imburana de Cambão, Licuri, Barriguda, Craibeira,batata de peba, manipeba.
Fruteiras:
Goiaba, Manga, Siriguela, Acerola, Cajarana, pinha, graviola, mamão, banana.
Anuais:
Milho, sorgo, feijão, girassol, aipim, quiabo, abóbora, melancia, melancia de cavalo.
Adubeiras:
Crotalaria, griricidia, feijão de porco, fava, palma (nativa),

Ainda estão previstas para o ano de 2010, algumas capacitações como:

Filtro de reuso de águas cinzas trabalham a filtragem das águas cinzas(provenientes de chuveiros, pias) por sistemas compostos por áreia, cascalho, terra e plantas aquáticas e sua reutilização para irrigar arvores nativas e frutíferas.
Forno solar aborda o uso da energia solar para o preparo de alimentos diversos(aipim, aroz,feijão, pão) , representando uma redução da pressão de retirada de árvores para produção de lenha.
Regularização ambiental e manejo ecológico das Comunidades de Fundo de Pasto vão enfocar a importância das APPS, reservas legais e a adequação dos fundos de pasto através da criação e manejo de áreas destinadas a recomposição da caatinga e produção de forragens e madeira.

A manutenção do sistema de Fundos de Pasto significa a preservação de uma cultura secular e de áreas significativas de caatinga, porém isso depende da criação e manutenção de políticas públicas especificas e da participação de outros segmentos da sociedade no apoio a resolução de suas demandas, entre as quais: a regularização fundiária e ambiental de suas terras, a preservação ambiental, acesso a educação contextualizada , assistência técnica agroecológica e saneamento básico.


Respostas de 2

  1. Olá povo mata, segue um relato bricolado da minha experiencia com comunidades tradicionais, as comunidades de Fundos de Pasto, e com a Escola Familia Agricola do Sertao(EFASE)
    *Circulos temáticos

    Textura 02 :: COMUNIDADES TRADICIONAIS – Projeto de Manejo ecologico do Fundo de Pasto

    Circulos tematicos relacionados {{{}}}}} II Econtro Nacional Grupos Agroecologia

    1) Comunidades tradicionais ::
    Comunidades de Fundo de Pasto

    2) Educação, teia da Vida e saúde ::
    Escola Familia Agricola e a pedagogia da alternancia

    3) Agrofloresta, recuperação de areas degradadas e APPs e sementes ::
    Implantacao de SAFs na caatinga :: Roca de madeira, Pasto caatingueiro
    Capacitacoes em Manejo de sustentavel de forragens da caatinga :: Manejo de sustentavel do Licurizeiro//

    4) Economia solidária ::
    Capacitacao em associativismo, cooperativismo e economia solidaria;
    Capacitacao em processamento de frutas (doces, geleias, compotas, seguranca alimentar)

    5) Permacultura e bioconstruções::
    saneamento ambiental :: filtros para reuso de aguas cinzas

    6) Reforma Agrária ::
    Fundo de Pasto . um movimento de luta pela terra

    MATERIAIS EM ANEXO ::
    ><<<><<< REDE DE GRUPOS DE AGROECOLOGIA DO BRASIL
    Lista :: http://br.groups.yahoo.com/ group/regabrasil/

    copia livre

    Publicacoes :: casa da mata

  2. Seguem algusn trechos sobre as comunidades, a escola e o movimento campones da regiao e depois um resumo do projeto.

    “O interesse em estudar as comunidades de Fundo de Pasto nasceu do
    contato com monitores e alunos da Escola Família Agrícola do Sertão – EFASE, no
    ano de 2005. Nesta época eu era bolsista do projeto Eco-família, que atuava na
    região de Monte Santo (Caatinga) e no Vale do Jequiriça (Mata Atlântica) e
    objetivava através de um trabalho de educação e extensão universitária auxiliar os
    agricultores no processo de transição tecnológica da agricultura convencional para
    uma agricultura ecológica .Durante este projeto tive oportunidade de conhecer a
    EFASE e a pedagogia da alternância, uma metodologia educacional voltada para
    a vida no campo e as questões sociais da região. A forma descentralizada de gerir
    a escola e o envolvimento dos alunos em questões práticas como uso da água,
    conflitos fundiários, bem como seus relatos sobre manifestações camponesas
    como O Grito da Terra e o Encontro Nacional do Movimento Sem Terra me
    impressionaram bastante. Ao longo do projeto entrei em contato com o movimento
    camponês da região (Canudos, Uaua, Monte Santo, etc.) que parece trazer
    reminiscências da Revolução de Canudos, o movimento tem bases ideológicas
    que fusionam catolicismo, cultura indígena e negra a um comunismo comunitário
    baseado nas relações familiares, de vizinhança, na solidariedade local e na cultura
    sertaneja.

    O Fundo de Pasto resiste aos arautos da ilusão da modernidade e do
    progresso.

    O Fundo de Pasto não é só um modo de trabalhar no campo. É um modo
    de viver! É uma cultura própria de relação com a natureza, com a terra e entre si.
    É uma forma diferenciada de vida comunitária. Em sua maioria o trabalho é
    familiar, não assalariado e não capitalista” (CPT, 2007).

    O Fundos de Pasto são uma forma de viver e trabalhar com características de
    autonomia, tendo constituído uma estrutura organizativa secular (CENTRU,1987,).

    São comunidades tradicionais, como quilombolas, tribos indígenas, populações
    ribeirinhas, pescadores e extrativistas (INCRA, 2004).
    Segundo as comunidades:

    “É o nosso jeito de viver no Sertão”.

    (Grupo Pilão Arcado Remanso e Campo Alegre de Lurdes)
    “Somos nós os Fundos de Pasto” (Plenária).
    62
    “Traz a herança Indígena, nos costumes, na confecção do artesanato de palha,
    cipó e outros materiais” (Plenária)

    “Está presente a tradição africana: terreiros de candomblé, danças, costumes,
    mitos”.(Plenária)

    Como as outras comunidades tradicionais sofrem uma ação
    desestruturadora por parte do grande capital, que atinge os trabalhadores
    retirando os seus meios de produção através de um processo de proletarização,
    tomada de suas terras, e também pela relação de subordinação do trabalho ao
    capital……

    PROJETO MANEJO ECOLOGICO DOS FUNDOS DE PASTO -RESUMO

    Em Monte Santo existem atualmente 34 comunidades de Fundos de pasto, nestas comunidades tradicionais, agricultores familiares moram em pequenos lotes individuais e criam seus animais(caprinos e ovinos), em áreas de posse coletiva(criação semi-extensiva), aproveitando as forragens naturais da caatinga. A maioria das comunidades está organizada em associações, pratica uma agricultura de baixo impacto ambiental e valoriza a cultura e vida na caatinga, sendo importantes parceiros na preservação do semi-árido baiano.
    O crescimento dos rebanhos das comunidades de fundo de pasto tem causado a degradação da caatinga, o que podemos verificar pela ausência de árvores jovens como: umbuzeiros, umburanas, aroeiras, licurizeiros e outras, que logo após germinarem são consumidas pelos rebanhos.
    O Projeto de Manejo ecológico do Fundo de pasto objetiva articular a preservação de áreas da caatinga ao desenvolvimento de atividades agropecuárias que contribuam com o aumento da biodiversidade e a melhoria da qualidade de vida das comunidades através da utilização de tecnologias ecológicas apropriadas a realidade local.

    &nbs p; Metodologia

    O projeto teve inicio com visitas de mobilização e um seminário de construção participativa das capacitações e outras metas.
    As capacitações estão sendo realizadas na EFASE (Escola Família Agrícola do Sertão) e nas comunidades de Fundo de Pasto, através da exibição de filmes, intercâmbios entre agricultores, e oficinas teóricas e práticas.

    O Projeto atua em 14 comunidades de Monte Santo, sendo estas: 11 são comunidades de Fundo de Pasto, 1 assentamento e 2 associações comunitárias.
    No primeiro semestre de 2008, as comunidades participantes e o IMA, definiram que as experiências piloto seriam desenvolvidas em 4 comunidades (Muquem, Paredão do Lou, Lagoa do Saco e Lagoa da Ilha) e na EFASE. As outras 12 comunidades participam das capacitações realizadas na EFASE e recebem oficinas de repasse ministradas pela equipe de extensão do Projeto, 3 ex-alunos da EFASE e 1 monitor das EFASE.

    O projeto já realizou as seguintes capacitações :

    Manejo sustentável do Licurizeiro trabalhou o uso e importância do Licuri, sua utilização na alimentação humana, e na ração animal e a extrção do seu óleo.
    Forragens da caaatinga trabalharam a utilização forrageiras exóticas e nativas( palma, pau de colher, maniçoba ) na alimentação animal, bem como técnicas de armazenamento( silos e fenação).
    Beneficiamento de frutas trabalhou a produção de doces, geléias e compotas a partir das frutas nativas(umbu, maracujá do mato) e exóticas como manga, goiaba, maracujá.
    Cooperativismo no Semi-árido reuniu CESOL(Centro de Economia Solidária), ARESOL(associação regional xxx , Redemoinho- Cooperativa de Comercio Justo e Solidário, a EFASE , o IMA e diversos moradores de comunidades locais para discutir as políticas publicas e partilhar das experiências em associativismo e cooperativismo, alem de qualificar os produtores nas área de comercialização e formação de cooperativas.

    Sistemas agroecologicos no semi-árido

    Em outubro de 2008 iniciamos o plantio dos sistemas agroecologicos , estes consorciam *espécies nativas da caatinga, árvores frutíferas, culturas anuais e as plantas “adubeiras”, sendo caracterizados por sua alta biodiversidade , uso de diferentes estratos, criação de micro climas e manejos inspirados nos padrões da sucessão vegetal.
    Nestas comunidades os sistemas agroecologicos ajudam a recuperar biodiversidade e ao mesmo tempo aumentam:
    – A capacidade de suporte ao pastejo, produzindo maniçoba, palma, aipim para as criações.
    – A capacidade de suporte ao extrativismo vegetal, plantando arvores para produção de madeira para cerca, lenha, construção de casas e móveis, além de espécies usadas na medicina popular e artesanato.
    Nativas:
    Aroeira, Angico, Maniçoba, Umbu, Imburana de Cambão, Licuri, Barriguda, Craibeira,batata de peba, manipeba.
    Fruteiras:
    Goiaba, Manga, Siriguela, Acerola, Cajarana, pinha, graviola, mamão, banana.
    Anuais:
    Milho, sorgo, feijão, girassol, aipim, quiabo, abóbora, melancia, melancia de cavalo.
    Adubeiras:
    Crotalaria, griricidia, feijão de porco, fava, palma (nativa),

    Ainda estão previstas para o ano de 2010, algumas capacitações como:

    Filtro de reuso de águas cinzas trabalham a filtragem das águas cinzas(provenientes de chuveiros, pias) por sistemas compostos por áreia, cascalho, terra e plantas aquáticas e sua reutilização para irrigar arvores nativas e frutíferas.
    Forno solar aborda o uso da energia solar para o preparo de alimentos diversos(aipim, aroz,feijão, pão) , representando uma redução da pressão de retirada de árvores para produção de lenha.
    Regularização ambiental e manejo ecológico das Comunidades de Fundo de Pasto vão enfocar a importância das APPS, reservas legais e a adequação dos fundos de pasto através da criação e manejo de áreas destinadas a recomposição da caatinga e produção de forragens e madeira.

    A manutenção do sistema de Fundos de Pasto significa a preservação de uma cultura secular e de áreas significativas de caatinga, porém isso depende da criação e manutenção de políticas públicas especificas e da participação de outros segmentos da sociedade no apoio a resolução de suas demandas, entre as quais: a regularização fundiária e ambiental de suas terras, a preservação ambiental, acesso a educação contextualizada , assistência técnica agroecológica e saneamento básico.

    >><<< REDE DE GRUPOS DE AGROECOLOGIA DO BRASIL
    Lista :: http://br.groups.yahoo.com/ group/regabrasil/

    copia livre

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