VIII Encontro Nacional de Grupos de Agroecologia:

Monoculturas da Mente x Agroecologia de Saberes

O Encontro Nacional de Grupos de Agroecologia (ENGA) surge a partir da proposta e iniciativa dos chamados “Grupos de Agroecologia” (GA’s). Há décadas os GA’s se constituem de forma autônoma nas universidades, protagonizados por estudantes das mais diversas áreas do conhecimento, com a intenção de estudarem, pesquisarem e praticarem a Agroecologia. Os Grupos de Agroecologia, e por conseguinte o ENGA, são indícios da insatisfação com relação à razão instrumental predominante nas escolas, cuja abordagem não proporciona uma reflexão acerca da finalidade do conhecimento técnico e científico que é gerado nestes espaços. Essa falta de reflexividade acerca da finalidade da produção do conhecimento faz com que grande parte da demanda tecnológica, das metodologias, do processo educativo e de produção do conhecimento se direcionem meramente ao adestramento para o mercado de trabalho e a fins tecnocráticos, mercantis e industriais. Os cursos das ciências agrárias, por exemplo, possuem uma matriz curricular na qual prepondera uma visão de agricultura e de “des-envolvimento” rural voltado a uma perspectiva industrial e capitalista (Agronegócio), baseada no pacote tecnológico da “Revolução Verde”, no latifúndio, na monocultura e na produção de commodities para exportação, em uma lógica meramente voltada ao lucro.

Mas afinal, por que estudamos/pesquisamos? Qual a finalidade do conhecimento que produzimos? Para que e para quem servem? Quais as relações de poder e os interesses estão presentes nas escolas/ universidades?
Qual o direcionamento de nossa formação profissional?

Nesse sentido é que se propõe o tema “Monoculturas da Mente x Agroecologia de Saberes”. Em oposição à razão instrumental se faz necessário estabelecermos espaços de construção de uma razão crítica que estimule a reflexão sobre qual a universidade, qual a educação, e mais especificamente qual a educação em agroecologia, queremos construir – seja qual for o espaço educativo, em baixo do pé de goiabeira ou na sala de aula. Qual Agroecologia e, em última instância, qual projeto de sociedade almejamos construir? Para construir esse projeto Agroecológico é necessário uma concepção formativa que leve a construção de um senso crítico e a constituição de espaços do livre pensar que desenvolvam a consciência e que abarquem a diversidade de saberes e perspectivas.

O ENGA surge como um espaço construído a fim de proporcionar a práxis pedagógica, ou seja, com a finalidade de ser um espaço de se experienciar e colocar em pratica um conteúdo reflexivo e teórico e vice-versa. Proporcionar a reflexão sobre o que fazemos e praticar o que pensamos. Além disso, o ENGA surgiu a fim de possibilitar o encontro e a articulação da diversidade de Grupos de Agroecologia que têm protagonizado a construção dessas perspectivas outras da razão e do conhecimento, de modo a exercitar esses outros métodos de aprendizagem horizontal: mútuos e compartilhados. O ENGA é um espaço de intercâmbios e vivências desses conhecimentos, saberes e sabores que, de modo geral, não costumam ser abordadas na educação convencional e na sociedade em geral. A fim de manter as articulações e o fortalecer estas interações e relações foi criada a Rede de Grupos de Agroecologia do Brasil (REGA Brasil).

O encontro também constitui-se em um laboratório microssocial de construção e desconstrução, tanto subjetiva como coletiva, com a finalidade de sairmos do automatismo da “normalidade” posta na vida em sociedade e para a experimenta-ação de relações sociais outras, afinal a Agroecologia não trata-se somente de uma mudança técnica, mas de todo um conjunto de relações e interações socioculturais, éticas, políticas, econômicas e ecológico-ambientais. Nesse marco é que temos a proposta da convivência horizontal, organização e atuação autogestionada, colocando em cheque as relações hierárquicas e desiguais em sociedade, do “mandar e obedecer”, da exploração mútua, da competição e do individualismo. A intenção é de criar um senso de coletividade e solidariedade. É importante frisar que autogestão, muito diferente do “deixar rolar” e do espontaneísmo, pressupõe ORGANIZAÇÃO coletiva, ou seja, pressupõe um despertar de uma disciplina individual consciente a fim de inserir-se nas dinâmicas coletivas, conscientizando-se de sua importância na constituição do TODO, que é o coletivo – tal qual nosso organismo, que é um aglomerado de células e órgãos em sintonia e comunica-ação em prol da constituição do corpo. Estas são questões importantes a serem mencionadas, pois elas fazem parte de nossa práxis educativa agroecológica, a fim de repensarmos como nós nos inserimos em sociedade, pois consideramos que o processo, o modus operandi, é parte fundamental na construção da Agroecologia de Saberes em contraposição às Monoculturas da Mente.

O modo que iremos nos relacionar e agir no mundo demonstram a finalidade do que almejamos construir enquanto Movimento Agroecológico.

Dinâmica dos espaços programáticos

O evento e seus espaços programáticos têm inspiração em metodologias participa-ativas que promovem o diálogo, a interação e os intercâmbios entre as/os participantes. Pedimos às/aos mediadoras/es e participantes das Rodas de Prosa que registrem os acúmulos dos espaços em relatorias para que elas sejam partilhadas no momento da Plenária FInal e para que elas possam contribuir na construção da Carta Política do encontro.

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