Belém, 1 de fevereiro de 2009 – Fórum Social Mundial

Esta carta representa a síntese das discussões que ocorreram a partir do dia 28 de janeiro de 2009 no acampamento da Aldeia da Paz e se repetindo nos demais dias do Fórum Social Mundial. Esses encontros reuniram grupos de estudo em Agroecologia do Brasil e América Latina. O foco inicial desses encontros foi a construção coletiva do Congresso Brasileiro de Agroecologia – CBA e do Encontro Nacional dos Grupos de Agroecologia, ambos marcados para novembro desse ano na cidade de Curitiba. Além desses focos, discutimos questões gerais que pautam o movimento agroecológico.

Nós acreditamos que a partir do paradigma da Agroecologia um novo mundo seja de fato possível e necessário. Enquanto hoje a agricultura brasileira vive os reflexos da revolução verde – um modelo químico mecanizado de cultivo –, o cultivo agroecológico propõe a redução, e até o fim do uso de insumos externos, num sistema de plantio que presa pela diversidade de elementos apresentando uma maior complexidade que os cultivos baseados na monocultura. Essa maior complexidade resulta numa necessidade maior de mão de obra no lugar de máquinas, promovendo a fixação do homem no campo, além de garantir a soberania alimentar e produtiva, o que já é observado em experiências positivas com agricultura familiar. Também se mostra uma medida eficiente para recuperação de áreas degradadas, minimizando o desmatamento e restabelecendo a biodiversidade local.

A importância da agricultura familiar se mostra clara em nosso país, pois que a maior parte dos alimentos básicos da nossa dieta é proveniente dessa forma de agrocultivo, que essencialmente se mostra contrário à uniformização e padronização dos sistemas agrícolas, apresentando, portanto, uma forte resistência ao uso de sementes transgênicas e valorizando o uso e proteção das sementes crioulas. A importância do trabalhador campesino é ressaltada na frase usada por grupos do MST: “Se o Campo não roça a cidade não almoça se o campo não planta a cidade não janta”.

O que hoje está sendo reconhecido cientificamente como Agroecologia já foi e é utilizado por comunidades indígenas e outras tradicionais em todo o mundo. Esses saberes milenares devem ser valorizados, bem como a riqueza da diversidade genética de seus cultivares e sementes, sendo também incluídos na categoria de patrimônio da humanidade, juntamente com as áreas de Parques Naturais que já são reconhecidos como tais.

Um exemplo representativo da capacidade que esses conhecimentos tradicionais têm de promover o manejo integrado de culturas em consonância e otimizando os processos naturais que podem ser observados na floresta amazônica, é a chamada Terra Preta Arqueológica – normalmente encontradas nas margens de rios e apresentam uma qualidade excepcional e características próprias de uma região, que recebeu intervenções positivas de comunidades que viveram na região há cerca de 200 a 700 anos atrás. Em Caxiuana, são encontrados 28 sítios privilegiados com essas terras, chamadas popularmente de Terra Preta de Índio. Tomando o exemplo citado, acredita- se que essas terras especiais estão relacionadas a regiões que receberam, cíclica e alternadamente, semeadura e incorporação integral dos produtos vegetais, tal como se faz em sistemas agroflorestais para otimizar o processo que naturalmente acontece em qualquer ecossistema.

Gostaríamos, portanto, de reconhecer a importância do evento – Fórum Social Mundial – como uma oportunidade de reunir diversos grupos de agroecologia em encontros tão produtivos, os quais geraram inclusive a formulação de alternativas que minimizam ainda mais impactos ambientais que um evento deste porte pode acarretar, fortalecendo assim a proposta comprometida com causas socioambientais. Alguns exemplos podem ser citados: distribuição de canecas para os participantes do evento, reduzindo o uso de copos descartáveis e consequentemente a produção de lixo; compra de produtos de origem local para construção da estrutura física do evento, para favorecer os mercados regionais; planejamento consciente do destino dos diferentes resíduos, direcionando- os à devidas usinas de reciclagem.

Finalizamos agradecendo a oportunidade de um encontro tão abrangente de importantes movimentos sociais, todos comprometidos com uma real transformação do planeta em que vivemos. O espaço foi muito rico em termos de troca de conhecimentos e informações de alta relevância para o mundo.

 

Muito Gratos,

GAE – UFRuralRJ; IARA – UFRuralA; FEAB – GeTerra; FEAB – Aranã; Agrovida – UFRB; UFPR – litoral; EVA – UFS; GEAE – UFPR; Ecovida – São Miguel; CPT/RS – UFSM; Capim Limão – UFRJ; GAUFC; GA – UFRuralRJ e EMA – Escola da Mata Atlantica.

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