Quando começam a surgir os Grupos de Agroecologia (GAs), há 30 anos mais ou menos, como alternativa ao modelo tecnicista e monocultor (em amplo sentido) hoje conhecido como “Agricultura Convencional”, atrelado ao pacote tecológico da chamada Revolução Verde. Os GAs foram criados por pessoas que integravam as diversas correntes da Agricultura Alternativa. Muitas participavam de executivas de cursos universitários, como a FEAB e ABEEF, e do próprio movimento estudantil. Essas pessoas começaram a sentir a necessidade de criar GAs para a Agroecologia ter um espaço maior de estudos, pesquisa, debates e ser base para ações concretas, dentro e fora das universidades.

2009

No Fórum Social Mundial de Belém em 2009, uma galera desses GAs do Brasil inteiro se reuniu. Discutiam uma estratégia para responder ao Congresso Brasileiro de Agroecologia – CBA – que aconteceria neste mesmo ano em Curitiba, pois as estruturas e moldes do mesmo não os contemplavam. Foi então que o pessoal do GEAE de Curitiba (PR), que tinha relação direta com a FEAB, se juntou com a Via Campesina: organizaram um acampamento na porta do CBA com dinâmicas e estrutura físicas e programáticas diversas em relação ao congresso. Foi o I ENGA.

2010

No ano seguinte o II ENGA aconteceu em Aldeia Velha-RJ. Tinha gente do Brasil todo, mas com maioria do sul, sudeste e nordeste. Apesar dos desafios metodológicos durante o evento, no final concluiu-se que os GAs deveriam dialogar mais ao longo do ano, e para isso foi criada uma lista de e-mails, com o nome de Rede de Grupos de Agroecologia do Brasil – REGA.

2011

Fortaleza (CE), ano de CBA. O acampamento do III ENGA foi super distante do congresso, praticamente não houve interação entre os eventos. Algumas pessoas ficaram só no ENGA, outras tentaram conciliar os dois eventos e outras usaram o ENGA apenas como acampamento, pois queriam apenas participar do CBA.  O encaminhamento final do ENGA foi de ocupar o congresso, cujo acesso era restrito. Foi organizado um lindo ato, foi lida uma carta política que comunicava à ABA que a REGA existia e propunha uma construção de diálogo entre os dois eventos. Neste momento a REGA se tornou pública, organizações vieram nos contatar, e a passos lentos essa construção foi seguindo.

2012

Na Cúpula dos Povos, o pessoal do Rio organiza um espaço da REGA na Tenda da Paz. Lá foi organizada uma feira de sementes, que durou alguns dias e terminou com uma plenária em que se reuniram integrantes de GAs de várias partes do Brasil. O encaminhamento central desta plenária foi que o próximo ENGA aconteceria em Viçosa, neste mesmo ano. Neste IV ENGA Viçosa (MG), houve o amadurecimento da ideia de que a REGA deveria existir independente dos encontros nacionais, organizando um evento que tratasse de questões mais internas da rede. Assim foi proposta a realização do I Sementário.

2013

O I Sementário ocorreu no início de 2013 na Casa das Bruxas, na UNIRIO (RJ), com o propósito de aprofundar os debates sobre a organicidade e estrutura da Rede. Logo após este evento a REGA é convidada a compor a ANA (Articulação Nacional de Agroecologia). Iniciamos então esta parceria nos inserindo no processo preparatório de construção do III ENA que viria acontecer somente em 2014, mas que teria como estratégia chave de mobilização as Caravanas Agroecológicas que aconteceram durante o ano de 2013.

Porto Alegre (RS): O V ENGA e CBA pela primeira vez são construídos em diálogo. Integrantes do grupo UVAIA, que estava puxando o ENGA, participaram diretamente dessa construção. O grupo pautou, junto à organização do CBA, o livre acesso aos espaços de debate e culturais do congresso para pessoas não inscritas.  A REGA conquistou nessa construção um espaço para a rede dentro do congresso, e montamos pela primeira vez nossa geodésica dentro do CBA.

2014

O II Sementário aconteceu em Antonina PR, dando destaque para a construção da comissão organizadora do VI ENGA – São Carlos. A comissão foi composta por diversos grupos do interior de São Paulo, que formaram a articulação Micorrizadas. Muitos representantes estavam participando do evento e se dedicando a entender a caminhada e acúmulos da Rede até aquele momento. Pela primeira vez um evento da REGA aconteceu em área de Reforma Agrária.

 O VI ENGA São Carlos foi sem dúvidas um marco nesta caminhada, sendo o ENGA com maior número de inscritos e contando com uma estrutura física e metodológica muito coerente e funcional. Neste encontro chamamos a ABA e a ANA para virem até nós conversar e entender melhor nossa relação e como poderíamos de fato nos potencializarmos. No final deste diálogo, a presidente da ABA convida a REGA para compor o GT Juventudes da ABA.

2015

O III Sementário aconteceu em Caxambú/MG. Foi organizado pelo coletivo Aldeia Ruderalis que trouxe muito forte a discussão sobre a profissionalização dos envolvidos com a REGA. Vale destacar que houve uma dificuldade metodológica neste encontro devido a um engessamento das metodologias propostas e centralização de falas por parte do mediador. Foi neste contexto que surgiu a sementinha da Kombosa me carREGA. Participaram deste Sementário dois integrantes do Grupo IARA que vieram do Pará e no fim foi encaminhado mandar dois membros ativos da REGA para Belém, para darem uma força no processo de construção do ENGA junto ao CBA.

Belém/PA – VII ENGA e CBA. Ficamos separadas/os do acampamento da Via e um pouco distantes do CBA. Dentro do congresso construímos mais uma vez nossa geodésica, sendo um espaço completamente diferente das estruturas do Hangar. Compomos enquanto REGA uma mesa sobre Juventudes, onde oficialmente convidamos outras juventudes organizadas para compor o recém-criado GT Juventudes da ABA. Outro grande encaminhamento deste ENGA foi o resgate da proposta de realização do ERGAs que passaram a acontecer no ano seguinte em algumas regiões.

2016

Pela primeira vez um Sementário acontece no Nordeste, sendo realizado no Sítio Ágatha, no Assentamento Chico Mendes II, em Tracunhaém/PE. Este IV Sementário se diferenciou por não ter tido de fato um grupo que já acompanhava a REGA em sua organização. Algumas pessoas mais antigas na rede, entretanto, contribuíram. Outro ponto de destaque é que foi o primeiro evento da REGA para muitos dos participantes, alguns mal sabiam da existência da rede. Neste contexto, foi dedicada uma energia maior ao processo de contextualização histórica, restando menos tempo para avançar em questões estruturais e organizativas da Rede.

Quando chegamos no VIII ENGA em Bananeiras/PB, retomamos discussões que continuavam em aberto, percebendo que a REGA estava crescendo muito, mas sem uma organização interna correspondente. Sentíamos a necessidade de definir nossos princípios, sistematizar nossas metodologias, definir nossos objetivos, entender quem afinal era a REGA, discutir melhor questões sobre representatividade, caixa, estruturação dos GTs e por aí vai.

Dada a demanda, em paralelo à programação oficial do encontro ocorreram diversos debates sobre a rede, em uma quadra central no espaço do ENGA. Dentre muitas reflexões foi encaminhada, na plenária final, uma proposta de Estrutura Provisória para a REGA, sendo que a composição desses grupos se manteria até o próximo Sementário.

2017

Assim chegamos no V Sementário em Botucatu/SP, organizado pelo grupo Timbó, com as demandas de sistematização e estruturação da rede, antigas e irresolutas pela dificuldade de se focar nelas. A missão foi dar continuidade aos debates feitos durante o ENGA de Bananeiras e sair de lá com a Rede organizada e reestruturada para dar conta do seu tamanho e das responsabilidades que foi assumindo durante seus oito anos de caminhada. Mais do que criar novos caminhos, este Sementário trazia consigo a grande missão de “constatar” os acúmulos desta trajetória. Deste Sementário, saíram pela primeira vez Princípios, Objetivos, Estrutura Organizativa, Critérios de Representatividade e de Entrada na Rede.

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