O Encontro Regional de Grupos de Agroecologia, o ERGA-Sul, reuniu mais de 230  pessoas do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul

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O clima frio não espantou as caravanas e comboios que chegaram ao camping do Parque Estadual do Rio Vermelho, em Florianópolis (SC), local escolhido para a realização do I Encontro Regional de Grupos de Agroecologia da Região Sul. Estudantes, técnicos/as, educadores/as e membros de diferentes grupos, redes e organizações vinculadas à agroecologia, carregam nas mochilas, além das barracas e colchonetes, experiências, desafios e propostas de caminhos alternativos para o modelo em curso.

Com o intuito de dinamizar as articulações, o fluxo de informações, a organização e o apoio mútuo nas diferentes regiões do país, a Rede de Grupos de Agroecologia do Brasil, a REGA Brasil, vem construindo encontros regionais. O primeiro aconteceu em abril na região Centro-Oeste e o segundo aconteceu entre os dias 26 a 29 de maio na região Sul.

Resistência nas universidades: grupos autônomos de estudos e Núcleos de Pesquisa, Ensino e Extensão em Agroecologia

“Minha palavra é resistência”, diz Fabrício, estudante da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), e segue dizendo que “desde o início eu percebi que os grupos de agroecologia nas universidades, nada mais são que resistência. Resistir e lutar por algo muito diferente do que está dado, do que a gente ouve na sala de aula. Eu estudo Biologia, mas eu convivo com a galera que faz agronomia na UFPel e a gente vive uma realidade das trevas. É, praticamente, proibido falar de agroecologia. Pensar uma nova ciência, pensar uma nova relação com a natureza, passa muito longe do que acontece. Por isso o Grupo de Agricultura Ecológica, o GAE, grupo que eu participo, é uma resistência na UFPel e acredito que todos os grupos e núcleos de agroecologia onde estiverem, são resistência”.

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Assim como Fabricio, vários outros estudantes compartilham suas angústias sobre a realidade adversa vivenciadas dentro das universidades. Fortalecer o ensino, a pesquisa e a extensão em agroecologia é desafio permanente. Ines Burg, da Diretoria da Associação Brasileira de Agroecologia, a ABA-Agroecologia, conta sobre a criação da Associação e os desafios enfrentados para que a agroecologia seja reconhecida e compreendida como ciência.

Em uma das rodas de conversa do ERGA-Sul, realizada no dia 28 de maio, Ines e Natália Almeida, que integra a equipe do Projeto de Sistematização de Experiências dos Núcleos de Agroecologia, coordenado pela Universidade Federal de Viçosa (UFV), e realizado pela ABA-Agroecologia nas cinco regiões do país, falam sobre a conquista

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das Chamadas Públicas para financiamento dos Núcleos de Agroecologia.

A partir dos esforços da ABA-Agroecologia e de um conjunto de apoios foi possível captar, a partir do extinto Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), recursos de outros Ministérios e, com apoio do CNPq, realizar editais que aplicassem recursos em projetos voltados para a indissociabilidade entre a pesquisa, o ensino e a extensão em agroecologia. O primeiro edital foi lançado em 2010 e hoje são mais de 150 núcleos espalhados pelas universidades, institutos federais e entidades de pesquisa.

Sistematização de Experiências: O que estamos aprendendo juntos/as?

A roda de conversa “O que estamos aprendendo juntos/as?” no ERGA-Sul tem como objetivos ampliar o coletivo que, na região sul, vem se dedicando a articular e sistematizar as experiências movimentadas pelos Núcleos de Agroecologia e construir espaços de formação e troca de experiências sobre as metodologias de sistematização. A participação dos estudantes, em muitos casos, os principais protagonistas das experiências de extensão realizadas pelos NEAs junto às comunidades rurais, é fundamental para que as iniciativas e os olhares da juventude estejam presentes.

Na oficina, o diálogo mais próximo com os movimentos sociais, a necessidade de atividades práticas, como os mutirões, a organização estudantil e as metodologias educativas populares apareceram como caminhos possíveis para o fortalecimento da agroecologia na região sul, dentro e fora das universidades.

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Trocando experiências sobre a sistematização, a oficina lembrou que a sistematização envolve processos históricos e sociais dinâmicos que estão em permanente mudança e movimento. Um de seus pilares é a valorização dos saberes das pessoas que são sujeitos destas experiências. Envolve investigação e avaliação, mas contempla a narração dos acontecimentos, a descrição dos processos, a escrita de memórias, a classificação de tipos de experiências e a ordenação de dados em uma interpretação crítica da realidade vivida.

Re-conhecer e Integrar

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O objetivo deste primeiro ERGA-Sul foi facilitar o  reconhecimento dos diversos grupos de agroecologia da região, sejam eles vinculados às universidades ou independentes, para fortalecerem-se enquanto uma rede de articulação regional, com suas pautas, demandas, ações e agendas próprias. O evento é considerado, “um marco para o enraizamento da REGA Brasil no sul do Brasil que, com a realização dos próximos encontros, pretende alavancar a organicidade e as articulações, tanto localmente (localidade dos grupos anfitriões dos eventos) como regionalmente, bem como conectar cada região do país a fim de tecer a articulação nacional”, é o que diz Mariana Reinach, também da REGA.

No I ERGA-Sul, como nos demais encontros da REGA, todos os participantes, além de terem a oportunidade de trocar experiências, ideias e práticas, vivenciaram quatro dias de imersão, compartilhando o convívio e a gestão comunitária do encontro em suas diversas dimensões: no preparo das refeições, na organização e limpeza dos espaços, na transparência em relação aos recursos financeiros para custeio do evento, no manejo dos resíduos gerados durante o encontro, na proposição de oficinas e de espaços artísticos e musicais, nas decisões em consenso, na comunicação compartilhada para registro do encontro como um todo, e assim por diante. Mariane e Tatiana, reforçam que foram momentos de inspiração, de aprimoramento organizacional, pessoal e metodológico, de florescimento de novas ideias, e de muito aprendizado com-partilhado, na busca constante pela coerência daquilo que se idealiza com aquilo que se vive, para elas “Resistência, Re-existência!”.

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Mariana, aponta ainda que “como um primeiro passo de uma longa jornada de vida, rumo à potencialização e dinamização da atuação conjunta através da Agroecologia, a REGA Brasil, tão jovem quanto suas/seus integrantes, se sente revigorada e com a inspiração renovada a cada encontro e partilhar! Juventude enquanto estado de espírito e opção política! Temos jovens desde os mais novos até os com mais anos de caminhada e experiência”. Os ERGAs acontecerão anualmente e serão sediados de forma rotativa pelos estados. Na região sul, o próximo será em Pelotas/RS em 2017, tendo o Grupo de Agricultura Ecológica, o GAE-UFPel, como focalizador do processo.

“Se a gente não trabalha em rede, a gente não se encontra”

É o que reforça Tatiana Furquim, uma das articuladoras da REGA na região sul, segunda ela, “as práticas da REGA vem apontando a importância da organização dos grupos. Se a gente não trabalha em rede, a gente não se encontra”. A oficina, assim como todo o ERGA-Sul, destacou a importância do trabalho organizado e em rede. Como exemplo, duas pesquisas de mestrado vinculados à Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e realizadas tendo como fio condutor metodológico, a sistematização de experiências, foram identificadas ao longo da oficina. A identificação e articulação de ações comuns, como as duas dissertações de mestrado, demostram a importância da agroecologia ampliar e qualificar seus canais de comunicação e articulação.

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As ações do próximo período do projeto de Sistematização, serão dedicadas à construção dos Seminários Regionais de Sistematização de Experiências. Estes serão momentos presenciais importantíssimos de formação e articulação regional dos NEAs. Os seminários terão como objetivos principais: a) Proporcionar espaços de formação sobre a sistematização de experiências, b) Possibilitar a troca de experiências sobre a sistematização entre os núcleos e parceiros regionais, c) Exercitar coletivamente o uso de diferentes ferramentas e estratégias de sistematização, d) Fazer a definição conjunta de pelo menos três experiências que serão aprofundadas pelo Projeto, e e) Elaborar planos de sistematização para os três casos definidos.

Em cada região, coletivos de sistematização estão se formando com a participação de representantes dos projetos das Redes de NEAs (projetos de atuação regional), dos núcleos e de parceiros regionais, para construção conjunta nesses seminários e desenvolvimento das demais ações de sistematização de experiências. No diálogo com a região Sul, a segunda semana de agosto e o estado do Paraná, pelo maior número de NEAs, foram indicados como períodos e locais possíveis para a realização do Seminário Regional Sul que deve acontecer na segunda semana de agosto no Paraná.

Para saber mais: sistematiza.aba@gmail.com

Este texto foi feito de forma colaborativa por: Mariana Reinach, Tatiana Furquim e Natália Souza

Fonte: http://aba-agroecologia.org.br/wordpress/?p=2603

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